Síndrome de Stendhal

Nas décadas de 80 e 90, a psiquiatra Graziella Magherini era responsável pelo Hospital de Santa Maria Nova, em Florença. Ao lado de outros profissionais, observou com frequência a aparição de jovens estrangeiros com distúrbios psíquicos: Em contato com obras de arte, sofrem de alucinações, alterações na percepção, desequilíbrio afetivo, depressão, angústia, ataques de pânico, taquicardia e sintomas de pré-infarto, entre outros.


Graziella Magherini, psiquiatra que descobriu a síndrome de Stenddhal.


O nome da Síndrome vem do escritor Stendhal, que em 1817 foi a Florença na Itália. Ao visitar a igreja de Santa Croce sentiu palpitações e tonturas, que descreveu em seu diário de viagem:

Florença, 22 de janeiro de 1817: Ao chegar a Florença, meu coração batia com força... as lembranças se comprimiam em meu coração, sentia-me sem condição de raciocinar e entregava-me à minha loucura como junto de uma mulher a quem se ama... Eu já me encontrava em uma espécie de êxtase pela idéia de estar em Florença e pela vizinhança dos grandes homens dos quais eu acabava de ver os túmulos [Michelangelo, Alfieri, Machiavel, Galileu]... Absorvido na contemplação da beleza sublime, que via de perto, eu a tocava, por assim dizer. Tinha chegado ao ponto da emoção onde se encontram as sensações celestes proporcionadas pelas belas-artes e os sentimentos passionais. Saindo de Santa Croce, meu coração batia forte, o que em Berlim chama-se "nervos"; a vida esgotara-se em mim, eu andava com medo de cair...”



Henri-Marie Beyle, mais conhecido como Stendhal (1783-1842)

Relatos semelhantes foram descritos por Graziella durante 10 anos de estudo.
No livro A síndrome de Stendhal, Graziella Margherini descreve alguns turistas desconcertados pela beleza. Um deles é Franz, um senhor alemão que saiu de uma galeria de arte florentina com alucinações visuais e o "coração e a cabeça em chamas". Voltou em seguida e, em frente ao jovem Bacco, de Caravaggio, apresentou típicos sintomas pré-infarto que depois se revelaram apenas psíquicos. Esses acontecimentos levaram Franz a refletir sobre sua própria homossexualidade reprimida.



Bacchus por Caravaggio, 1595.


A norueguesa Brigitte teve taquicardia e cansaço exacerbado por não suportar a "sexualidade difusa" de Florença. "Até mesmo as obras de Fra Angelico [pintor italiano renascentista], tão ingênuas e puras, exprimem uma violência sexual muito forte, semelhante à dos artistas modernos", diz. "Depois de refletir sobre as razões de sua súbita perturbação, Brigitte admitiu: "Nós dos países nórdicos não estamos preparados para um choque desses. Somos menos maduros, mais ingênuos em relação ao mundo dos sentidos, educados sob rígida moral protestante".

Martha, uma jovem de 25 anos, foi obrigada a permanecer no hotel durante toda sua viagem de formatura. A estadunidense Lucy ficou convencida de ser a reencarnação de uma freira da região da Úmbria morta com a sua idade, 20 anos. Ao examiná-la, os psiquiatras florentinos descobriram uma história de abandono paterno, timidez extrema e desconforto psíquico. Como é usual nesses casos, os cuidados limitaram-se a um breve tratamento que permitisse o retorno ao país de origem, com a esperança de que o problema fosse um alarme que a levasse a reconsiderar seu próprio sofrimento e a buscar acompanhamento psicológico.

Por: Paulo Pinheiro

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