Os Preludes

Prelude, em português "prelúdio", anuncia algo que está por vir. Assim, os 6 primeiros preludes traziam a introdução da complexa história que seria desenvolvida mais tarde com os vídeos musicais. Mostrando uma mulher loira com a pele negra entre árvores e perseguida por cachorros, traziam a história do nascimento da mandrágora até sua colheita.

Cada vídeo trazia no título números separados por pontos, que traziam desespero aos fãs que tentavam decodificá-los. Além disso, cada vídeo possuía tags que davam dicas sobre seus significados.

A parte dos títulos que não seguia uma lógica criptográfica foi abordada pela teoria dos hexagramas (para entender, leia a teoria completa aqui)

Prelude 699130082.451322-5.4.21.3.1.20.9.15.14.1.12
Prelude 699130082.451322-E.D.U.C.A.T.I.O.N.A.L.
Tags: wood foetus natal moisture machine disciple orifice


O primeiro vídeo mostra a mandrágora em posição fetal, num ambiente subterrâneo semelhante a um útero (lembrem que ela não nasce de um ventre. A terra é literalmente sua mãe). Acima do solo, árvores que possuem braços, pernas e olhos saúdam a chegada da protagonista. A antropomorfização das árvores reforça a ideia de que estamos lidando com um ser híbrido: Características humanas e de plantas, capaz de movimentar-se e até mesmo falar.



O vídeo da descrição mostra o parto de uma cabra, uma alegoria ao nascimento da mandrágora.


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I.A.M.669321018
Tags: foetus lap nourish cortex sap disciple wood


Temos agora a mandrágora lambendo uma substância leitosa de uma árvore com um formato similar ao de uma vagina. Seja o sêmen do homem enforcado ou a seiva das árvores ao seu redor, a mandrágora está se alimentando e entrando em comunhão com seu habitat natural. Ela lambe seu leite materno, acaricia o tronco da árvore, beija-a e dá carinho, como um bebê ao ser amamentado pela mãe.





Sua movimentação de certa forma erótica mostra que vida, morte e sexualidade são praticamente a mesma coisa. Para um ser que nasce a partir da morte, que se alimenta de figuras sexuais e que traz fertilidade, estes conceitos distintos estão muito entrelaçados.

A alegoria da coruja no vídeo da descrição não é muito clara. Talvez seja pelo fato de esta ter ninhos em buracos de árvores, ou seu som seja uma alegoria ao acasalamento. De qualquer maneira, o objetivo do vídeo é mostrar a mandrágora em seu lar, interagindo com sua mãe terra.


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I.T.S.M.E.723378
Tags: foetus amniotic fluid umbilical cord cream gateau disciple wood


Temos agora a mandrágora nadando no que seria o “líquido amniótico” de sua mãe. Talvez neste ponto não haja uma linearidade, já que no vídeo anterior ela já se mostrava andando entre as árvores e aqui encontra-se em estado fetal. De qualquer maneira, há mais um símbolo do mito da mandrágora: O bolo de morangos (que representam os frutos da planta).



Para alguns, o bolo representa o começo da transformação da planta em humana. Seu alimento natural (o sêmen do enforcado / seiva da árvore-mãe) agora é substituído pelo bolo, um alimento humano. Mas o mais importante do vídeo e que muitas vezes passa despercebido é o fato de existirem 6 mandrágoras. Imaginar que a história de uma mandrágora às vezes apareça espelhada 6 vezes, representando as 6 mandrágoras, é uma explicação de por que esse número se repete tanto nos vídeos.



Logo a mandrágora é perturbada. A água estremece, a música muda de um canto calmo para uma batida grave e latidos aparecem ao fundo. Da mesma maneira que um bebê se sente assustado ao ser puxado para fora de seu ventre, a mandrágora se assusta ao sentir que está prestes a ser puxada pelo cão do mito.

O vídeo da descrição mostra um tubarão-baleia, mas o áudio é o canto de uma baleia-jubarte, conhecida por ter um dos cantos mais bonitos e complexos existentes entre os animais. Ou seja, isto já não é mais um projeto fotográfico ou cinematográfico como alguns pensavam: Isso se trata de música.


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M.A.N.D.R.A.G.O.R.A.1110
Tags: wood disciple rodent engender spout mount


Fora do seu ambiente materno, a mandrágora circula entre as árvores. Com o vídeo da descrição mostrando abelhascarpinteiras, o viral pode estar mostrando a mandrágora tentando se proteger dos cães que estão prestes a fazer a colheita. Sua imagem distorcida, como se estivesse em um espelho, reforça a ideia de que há mais de uma mandrágora, porém estamos olhando apenas a história de uma. 


A imagem espelhada: O que parece uma história única pode ser várias. O que parece várias histórias pode ser uma só.


Acima do solo existem 6 cães, pois existem 6 mandrágoras para serem colhidas. Creio que existam mais símbolos escondidos nesse vídeo, mas aí fica a critério de cada um pesquisar ou criar sua própria interpretação.

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O.F.F.I.C.I.N.A.R.U.M.56155
Tags: wood lay roe spasm disciple nest virulent


Aqui temos a colheita da mandrágora (ou captura, já que não estamos falando de um ser imóvel). Assim como no vídeo da descrição, que mostra uma lhama cuspindo em um homem, a mandrágora se defende da presença do cachorro. Furiosa, arranha o tronco da árvore, debate-se, grita e mata o cão. 



Agora ela já não está mais na terra e tornou-se vulnerável. Já não está mais no seu mundo e sim no mundo dos humanos. A bola vermelha que bate pelas árvores talvez seja um símbolo do seu fruto.


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W.E.L.C.O.M.E-H.O.M.E.3383
Tags: asterisk disciple habitat interment crest wood pulp

Assim como no final do vídeo anterior, temos agora a mandrágora dentro de uma cabana. Vultos passam ao fundo, preparando o lar da recém-chegada. Galhos e folhas são colocados ao seu redor, seus frutos pendurados à sua frente. Todo o cenário gira em torno da protagonista, enfeitada como um presente, assim como os holofotes iluminam uma cantora em um palco. Fora da casa, galhos dizem “Welcome”, convidando o espectador à verdadeira história. A mandrágora já está crescida e agora começa a parte importante.



O ambiente já é outro. Tudo está menos sombrio e as árvores voltaram a ser apenas plantas, como que dizendo que o mundo da mandrágora, seu lar natural, sua mãe terra, já não lhe pertencem. Agora o mundo é dos humanos e é nas regras deles que ela irá jogar. Na neve jazem 6 cruzes (os seis cachorros que foram sacrificados na colheita das seis mandrágoras?), com a frase I AM escrita em sangue.

O ápice do vídeo e fim da fase dos preludes vem com a transformação final da mandrágora: Acima da cabana, ela abre os braços e floresce em uma enorme folha, com raízes penetrando o solo. Toda a etapa de nascimento e crescimento que foi apresentada nos vídeos anteriores culmina na criatura híbrida completamente madura. O projeto trata de ciclos e aqui termina um, para começar outro. Termina o ciclo da mandrágora livre para começar a história da mandrágora aprisionada, um pouco mais humana do que planta.



O vídeo da descrição mostra chimpanzés enjaulados e enfurecidos. Fixa assim a ideia de que a mandrágora agora está presa, sob os domínios de humanos.

Todo o enredo aparentemente linear que havia até agora será quebrado. Os vídeos seguintes entrarão nos conflitos de uma criatura cuja liberdade foi tomada e os homens que a capturaram. O que parecia ser apenas uma história antiga recontada irá se desdobrar em interpretações profundas, análises introspectivas e críticas à sociedade.




So many questions, so many things unsaid

Por: Paulo Pinheiro

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